1º TEMA - CONFLITOS E PROTESTOS NA UCRÂNIA
Desde novembro de 2013 ocorrem ondas de protestos na Ucrânia contra o
governo do presidente Viktor Yanukovych, principalmente na praça da Liberdade
(Maidan), no centro da capital Kiev. O motivo principal seria o fato de
Yanukovych ter decidido que o país não assinaria o acordo com a União Europeia,
pretendendo reforçar as relações com a Rússia. Prédios públicos foram ocupados,
barricadas foram erguidas na capital Kiev e dezenas de mortes foram verificadas
desde o início dos conflitos, evidenciando a violência dos protestos.
Há ainda uma
série de fatores que tem levado as pessoas às ruas, como a crise econômica, a
desigualdade social, a corrupção, o sucateamento dos serviços sociais, a
pobreza e o desemprego, além da forte repressão policial que se verificou
contra os manifestantes.
O conflito interno na Ucrânia está relacionado com divisões geográficas e
culturais do país. A Ucrânia Central e Ocidental é mais próxima à Europa e é
onde existe uma tradição cultural ucraniana. A Ucrânia do Sul e Oriental é mais
próxima à Rússia e sua população é de maioria russa. Essa divisão traduz-se no
apoio ou não do presidente Viktor Yanukovych, já que os ucranianos do centro e
do ocidente são os principais opositores do regime, e o apoio ao presidente
estaria nas regiões orientais e sul.
Tais divisões expressam-se ainda em diferentes vertentes de nacionalismo.
Isso possivelmente explica que parte dos líderes dos protestos seja de direita
e de extrema-direita, muitos simpatizantes do fascismo e do nazismo.
O mais organizado é o partido Svoboda (Liberdade), com células de
ativistas em várias regiões. Há ainda uma coalizão de grupos neonazistas
denominados Setor Direita, que ganharam bastante apoio após os enfrentamentos
na praça da Independência. Individualmente, o principal nome da oposição é o
ex-campeão de boxe Vitali Klitschko, líder do movimento chamado Udar (soco),
possível candidato à presidência em 2015, com o lema “um país moderno com
padrões europeus”.
Outra liderança da oposição a Yanukovych é a ex-primeira-ministra Yulia
Tymoshenko, presa desde 2011, em decorrência de acusações de abuso de poder,
durante a realização de um acordo sobre gás com a Rússia, em 2009.
A situação na Ucrânia está ainda em aberto, principalmente graças ao fato
de ser um país industrializado e também por passarem em seu território
gasodutos que fornecem o combustível à Europa, transformando assim os protestos
em foco de interesse de potências ocidentais e da Rússia.
Possivelmente, nos próximos vestibulares, o que pode ser abordado nem
seja a situação atual da Ucrânia, mas talvez alguns momentos de sua história.
Mais próxima no tempo está a chamada Revolução Laranja, ocorrida em 2004.
Foi um movimento relacionado com as eleições daquele ano, que se polarizaram
entre Viktor Yushchenko, um político ligado ao Ocidente, e o próprio Viktor
Yanukovych, apoiado pelo presidente à época, Leonid Kuchma, e pró-Rússia. Havia
sérias críticas à corrupção no governo de Kuchma, e a candidatura de Yushchenko
era uma possível alternativa a essa situação.
As denúncias de fraudes das eleições em favor de Yanukovych levaram a
Suprema Corte do país a decidir por um novo segundo turno. Grandes
manifestações tomaram as ruas e greves ocorreram nas empresas. Yushchenko
sofreu envenenamento por dioxina, que não o matou, mas deixou sequelas em seu
rosto. Em face do acirramento dos protestos, nova eleição foi realizada,
garantindo a vitória de Yushchenko.
A Revolução Laranja foi uma tentativa de colocar no poder políticos não
mais diretamente ligados à influência russa. Isso possivelmente ocorreu pelo
fato de a Ucrânia, durante muitas décadas, estar inserida nas estruturas do
Estado Russo.
Desde o século XVIII, a Ucrânia fazia parte do território do Império dos
czares russos e assim foi até a Revolução Bolchevique de 1917. No ano
posterior, a Ucrânia conseguiu sua independência e setores sociais ucranianos
foram fundamentais para a derrota das tropas do Exército Branco, que pretendiam
acabar com o processo revolucionário. Na luta contra os Brancos, destacaram-se
principalmente os camponeses liderados por Nestor Makhno.
Entretanto, em 1924, a República Socialista Soviética da Ucrânia aderiu à
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e nessa estrutura permaneceu
até o colapso do chamado comunismo soviético em 1991. Nesse ano, uma nova
independência foi conseguida, dando nome ainda à praça Maidan, onde estão
ocorrendo os protestos em 2013 e 2014.
Apesar de terem conseguido uma intensa industrialização na órbita
soviética, os ucranianos vivenciaram períodos de graves problemas sociais.
Durante o período da chamada coletivização das terras, na década de 1930, houve
intensa resistência camponesa, e a requisição forçada de cereais por parte do
governo soviético resultou na morte de cinco milhões de pessoas. O outro caso
que pode ser citado foi o acidente nuclear na usina de Chernobyl, em 1986, que
atingiu principalmente o território ucraniano, bielorrusso e russo, resultando
na evacuação de grandes extensões de terras.
A independência em 1991
fortaleceu também as tendências políticas nacionalistas, que tentam afastar o
país da influência russa. Nesse sentido, a situação de conflito que se verifica
atualmente na Ucrânia está ligada a esse histórico do país, de subordinação à
Rússia, por um lado, e de tentativa de criar uma política nacionalista
independente e próxima das instituições políticas da Europa Ocidental, de
outro.
Porém, a força que vêm
demonstrando os grupos de extrema-direita indica a constituição de um cenário
em que o autoritarismo, ou talvez o fascismo, seja o grande vencedor.
Por Tales dos Santos Pinto
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